O texto a seguir faz parte de um trabalho que fiz para o curso de Teologia da FIDELIS. Ele foi baseado em um seminário que participei em 2011 sobre igrejas socialmente relevantes. O palestrante foi o Dr. Johannes Reimer - docente da Universidade da África do Sul, plantador de igrejas, missiólogo e autor de bons livros sobre o tema. (Laudo Leon)
O ano
da graça do Senhor
Quando
leu o capítulo 61 de Isaías na sinagoga, Jesus fez muito mais do que anunciar
sua missão neste mundo (Lucas 4.18-19). Ele provocou uma verdadeira revolução.
Essa passagem, explica Reimer, está dentro de um bloco de textos proféticos
chamados Textos Teológicos de Sião, que falam do reino messiânico e sobre a
restauração da glória de Deus sobre a terra.
Acontece
que a última parte do texto, que fala sobre “o ano da graça do senhor”, é
referente ao ano do jubileu descrito em Levítico 25. Esse texto diz que a cada 50 anos, os
israelitas deveriam promover uma completa restauração social, familiar,
econômica, ecológica e de confiança em Deus. Neste caso, por exemplo, as terras que
haviam sido compradas deveriam ser restituídas aos seus primeiros donos, os
escravos deveriam ser libertados, a terra não poderia ser cultivada e nesse
período, todo sustento viria de Deus.
Alguns
estudiosos acreditam que Jesus falou isso provavelmente em um ano de Jubileu,
por isso o impacto foi tão grande. Afinal, se esse mandamento fosse cumprido,
os “poderosos” daquela época teriam que devolver suas posses aos donos
originais e pelo que tudo indica certamente eles não queriam isso. E este teria
sido também um dos motivos pelos quais eles tanto perseguiram Jesus.
Ação
política de Jesus
Segundo
Reimer, se jogarmos o ano do jubileu para dentro dos evangelhos, poderemos
observar como o ministério de Jesus teve um caráter político. Suas ações nesse
sentido estão expressas em quatro dimensões.
A
primeira é a da proclamação. Jesus percorreu a terra anunciando o evangelho da
salvação, o evangelho de um Deus justo que ama o mundo, mas odeia o pecado. Ele
proclama o Reino de Deus.
Mas
além de falar, Jesus também fazia. Suas palavras e ações andavam juntas. Apesar
de ser Deus, Ele não veio para ser servido, mas sim para servir, curando
doentes, restaurando e transformando vidas, cuidando dos fracos e oprimidos.
Essa é a dimensão diaconal da missão de Jesus.
A
terceira dimensão é a da comunhão. De acordo com Reimer, onde Jesus estava
havia verdadeira comunhão entre as pessoas. A comunhão de reciprocidade. O
próprio grupo de discípulos é prova disso, pois, apesar da grande divergência
de características entre eles, Jesus conseguiu fazer desse grupo, um grupo
coeso. E tudo isso Jesus conseguia mediante ao diálogo.
A
quarta dimensão é a do louvor a Deus. Em todo lugar que Jesus chegava, Deus se
tornava conhecido e era louvado e glorificado pelas pessoas.
Essas ações de Jesus, esclarece
Reimer, tinham como propósito mudar o ambiente das pessoas. “Essa missão era política”, afirma
destacando que a verdadeira política se constitui na transformação do meio
ambiente das pessoas. Assim a política
que Jesus praticou foi a da construção do reino de Deus.
Para Reimer, do ponto de vista metodológico,
temos essa mesma missão. Somos chamados e desafiados a fazer o que Jesus fez: pregar
o senhorio de Deus; ir até as pessoas para servi-las e curar seus doentes;
promover a transformação e a reconciliação de vidas; e termos comunhão com as
pessoas.
“Temos uma tarefa, de renovar a vida das
pessoas, para que elas vejam e glorifiquem a Deus. Porque o seu meio ambiente a
sua comunhão mudou. Porque a graça se tornou em Reino de Deus, e o ano da graça
do Senhor foi proclamado”, diz Reimer lembrando que toda a criação espera por isso.
Referência
Bibliográfica: Reimer, Johannes. Abraçando o Mundo:
teologia de implantação de igrejas relevantes para a sociedade - Curitiba, PR :
Editora Esperança, 2011.
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